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Exercício com critério

A área do fitness tem observado um franco crescimento ao longo dos últimos anos, tendo apenas apresentado estagnação e consequente retrocesso com a situação socioeconómica gerada pela pandemia. Ao longo destes últimos anos a área tem-se vindo a promover com base em promessas, quase em exclusivo, relacionadas com o corpo. “Exercício para todos” é uma delas! Mas que tipo de exercício? Poderá a estruturação de um programa de exercício ser igual para todos? Ou será que já estamos a considerar as devidas diferenças entre aqueles que procuram a performance, estética ou saúde? Ou será que um pouco de todas! Haverá alguma solução que seja razoável e integradora? Ficam as questões para que o leitor possa refletir acerca das mesmas e de acordo com a sua realidade.


A perspetiva através da qual observamos e valorizamos o exercício é fundamental, pois é através dela que condicionaremos a nossa prática. Esta realidade aplica-se tanto ao profissional como ao praticante. Sabendo que vivemos numa era em que a esperança média de vida continua a aumentar, novos desafios emergem, particularmente aqueles que se relacionam com a população sénior. Com o aumento da longevidade, surge também a procura de maior qualidade de vida, diretamente associada a maior ou menor capital de saúde.


Ao longo dos últimos anos o exercício tem vindo a ocupar um lugar de destaque nas estratégias que se propõem a aumentar a qualidade de vida e a promover o bem-estar das pessoas. O próprio conceito de bem-estar tem-se vindo a tornar cada vez mais abrangente, agregando domínios da mente/cognição, sociais-culturais, económicos e, inevitavelmente, um outro relacionado com a funcionalidade física.


O paradigma da longevidade cria novos desafios relacionados com uma maior incidência e prevalência de condições crónicas. Como pode o exercício físico contribuir positivamente para esta realidade? Certamente que não basta o reconhecimento da sua capacidade protetora na prevenção primária, secundária, e até terciária de várias doenças e síndromes.


Portanto, se por um lado a área clínica é fundamental na otimização farmacológica destas condições, por outro lado, o exercício físico pode ser visto como um coadjuvante na promoção de saúde e qualidade de vida das populações. Faz-lhe sentido?

​Será o "exercício para todos" o caminho? Temo que este possa ser um caminho onde a desvalorização do exercício ocorre devido ao perpetuar de fórmulas genéricas que não consideram a individualidade biológica. Poderá haver uma via que valorize o exercício sem implicar o seu declínio? Creio que sim, mas para tal exige-se uma consciência profissional que valorize o critério e a prescrição baseada em evidência científica. Tal atitude crítica tem de ser fomentada nas instituições  que formam os profissionais, e posteriormente valorizada no mercado de trabalho. Estará o fitness a caminhar nesta direção ou haverão outros caminhos alternativos?


Espero que o leitor tenha tido tempo para refletir acerca das questões que lhe fui colocando ao longo deste comentário, e que dessa forma o tenha sensibilizado para a importância do exercício físico, em particular quando prescrito com base em evidência científica e atitude crítica.


Para concluir este comentário, se me permitir, desafio-o a refletir sobre o seguinte: que tipo de medicamento será o exercício? (espero que me permita esta comparação) E qual o tipo e dose que se adequam a si! E exercício físico, afinal o que é isso? Sim, se vamos prescrever-lhe um fármaco convém saber um pouco acerca de farmacologia, neste caso de fisiologia humana (muscular, articular, neural), de anatomia, assim como de biomecânica (mecânica aplicada a estruturas biológicas), apenas para citar algumas das áreas para as quais o profissional do exercício deve estar educado e saber refletir.


Por fim, e resolvendo alguma da tensão acerca do tema, creio que o Exercício pode e deve ser para todos! Para que tal aconteça terá de existir uma individualização do estímulo para cada caso em particular. Poucas são as condições em que o exercício é desaconselhado, sendo que até mesmo em casos mais complexos como condições oncológicas, arritmias ou outras condições, este pode ser adaptado. A complexidade dos fenómenos fisiológicos associados ao exercício implicam um respeito pelo contexto, o princípio ativo e a dose deste medicamento.


A valorização do exercício consciente tem vindo a aumentar, por mérito de muitos profissionais e escolas que valorizam uma prática baseada na atitude crítica e em conhecimento científico. Estará o fitness a fazer o mesmo? Estarão os autodenominados clubes de saúde (health clubs) a cumprir com este desidrato consciente? Será que o rigor que se exige quando falamos de uma prática baseada em evidência e individualização pode ser uma realidade? O que acha o leitor?


Exercício para todos sim, mas com critério!


Boas leituras e bons treinos.


Professor Eduardo André

Fisiologista do Exercício


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