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Vou salvar o planeta a comer local?

  • Carolina Preto
  • 21 de mai.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 2 de jun.

Apoiar os produtores locais é, sem dúvida, uma forma importante de reforçar a economia da região e promover a soberania alimentar. Mas será que comer local tem, de facto, um impacto ambiental significativo?


Há uma forte narrativa em torno da ideia de que escolher alimentos produzidos localmente é uma das formas mais eficazes de reduzir a nossa pegada ecológica. No entanto, essa ideia não é apoiada pela evidência científica. O impacto ambiental do transporte dos alimentos é, na esmagadora maioria dos casos, muito menor do que se pensa.



Para a maioria dos produtos alimentares, o transporte representa menos de 10% da sua pegada de carbono total (ver barras a vermelho na Figura 1). E mesmo somando todas as etapas que ocorrem após a saída do alimento da exploração agrícola — como o processamento, a embalagem, a distribuição e a venda —, a contribuição para as emissões continua a ser relativamente pequena. O principal impacto ambiental concentra-se, quase sempre, na fase de produção agrícola, sobretudo no caso dos produtos de origem animal.


Há exceções — nomeadamente os alimentos transportados por via aérea. Mas estes são residuais no panorama global. Representam apenas 0,16% das distâncias percorridas por alimentos a nível mundial (Poore & Nemecek, 2018). Aliás, muitos dos alimentos que se presume virem de avião chegam, na verdade, por via marítima, com impacto ambiental muito mais reduzido.


Portanto, mais do que “comer local”, importa perceber o que se come. A composição da dieta tem um peso incomparavelmente maior do que a origem geográfica dos alimentos. A evidência é clara: reduzir o consumo de produtos de origem animal — em particular carne e lacticínios — é uma das formas mais eficazes de diminuir a pegada ecológica da alimentação. E dentro do grupo das carnes, a carne bovina destaca-se como a mais prejudicial para o ambiente.


Por fim, quero salientar que não se trata de desvalorizar o apoio à produção local, dado que tem o seu valor — económico, social e, em certos contextos, até ecológico. Contudo, quando o objetivo é reduzir o impacto ambiental da nossa alimentação, a pergunta-chave não é “onde foi produzido?”, mas sim “que tipo de alimento estou a escolher?”.


Figura 1 - Emissões de gases com efeito de estufa ao longo da cadeia de abastecimento alimentar (a barra a vermelho representa o transporte)



Referência:

Poore, J., & Nemecek, T. (2018). Share of global food miles by transport method. https://ourworldindata.org/grapher/share-food-miles-by-method

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