Alimentos Processados: Vilões ou Aliados na Alimentação Moderna?
- Carolina Preto
- há 2 dias
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Compreenda a diferença entre processamento mínimo e ultraprocessamento e saiba como fazer escolhas conscientes na sua alimentação.
Por Gonçalo Matias Santos
Nutricionista (6007N)

Com a revolução tecnológica a transformar também a indústria alimentar, temos hoje acesso a uma variedade quase infinita de produtos, adaptados aos mais diversos gostos e necessidades. Entre esses produtos, os alimentos processados têm vindo a ganhar espaço nas prateleiras e também no nosso quotidiano.
No entanto, classificar os alimentos apenas como "processados" ou "não processados" é uma abordagem demasiado simplista. O grau de processamento dos alimentos existe num contínuo, e compreendê-lo é essencial para fazer escolhas alimentares mais conscientes (Monteiro et al., 2019).
Uma das principais ferramentas para essa compreensão é o sistema de classificação NOVA, que categoriza os alimentos em quatro grupos:
Grupo 1: Alimentos in natura ou minimamente processados;
Grupo 2: Ingredientes culinários processados (como óleos, manteiga, açúcar);
Grupo 3: Alimentos processados (como queijos, conservas, pães tradicionais);
Grupo 4: Alimentos ultraprocessados (como refrigerantes, bolachas recheadas e snacks industrializados) (Monteiro et al., 2019).
Por exemplo, é fundamental distinguir:
Um processamento mínimo, como a pasteurização do leite ou a remoção da casca de uma maçã,
De um processamento intensivo, como o que gera batatas fritas de pacote, ricas em gordura, sal e aditivos, formuladas para serem altamente palatáveis e difíceis de resistir (Fardet, 2016).
Nem todo o processamento é prejudicial. Existem alimentos minimamente processados que mantêm uma composição nutricional de qualidade e que trazem vantagens significativas:
Enriquecimento nutricional (ex.: adição de vitaminas e minerais essenciais);
Segurança alimentar (redução do risco de infeções microbianas);
Prolongamento da validade (redução do desperdício alimentar);
Diversidade alimentar (contemplam necessidades específicas, como opções veganas ou sem glúten).
Por exemplo, os laticínios magros preservam nutrientes essenciais, como o cálcio e proteína de alta qualidade, enquanto apresentam um teor mais reduzido de gordura e calorias (FAO, 2021).
Contudo, talvez a principal vantagem dos alimentos minimamente processados seja a conveniência. Num contexto onde o tempo é escasso e as exigências diárias são muitas, alimentos prontos a consumir permitem otimizar recursos preciosos como o tempo e a energia.
Exemplos práticos de alimentos minimamente processados, que são simultaneamente interessantes do ponto de vista nutricional, incluem:
Leguminosas enlatadas (feijão, grão, ervilha);
Iogurte magro natural;
Pescado em conserva ao natural (ex.: atum ou sardinha em água);
Hortofrutícolas congelados.
Mesmo nestas opções, é recomendável optar por variantes com baixo teor de sal, gordura, açúcares e aditivos (Monteiro et al., 2019).
Em jeito de conclusão, embora a base de uma alimentação equilibrada deva privilegiar alimentos naturais e integrais, os alimentos minimamente processados podem perfeitamente fazer parte de uma dieta saudável. O objetivo não é a perfeição absoluta, mas sim a construção de um padrão alimentar adaptado à vida moderna, consciente, prático e sustentável a longo prazo.
Referências:
Fardet, A. (2016). Minimally processed foods are more satiating and less hyperglycemic than ultra-processed foods: A preliminary study with 98 ready-to-eat foods. Food and Function, 7(5), 2338–2346. https://doi.org/10.1039/C6FO00107F
FAO. (2021). Food-based dietary guidelines - Portugal. Food and Agriculture Organization of the United Nations. https://www.fao.org/nutrition/education/food-dietary-guidelines/regions/countries/portugal/en/
Monteiro, C. A., Cannon, G., Levy, R. B., Moubarac, J. C., Louzada, M. L. C., Rauber, F., Khandpur, N., Cediel, G., Neri, D., Martinez-Steele, E., Baraldi, L. G., & Jaime, P. C. (2019). Ultra-processed foods: What they are and how to identify them. Public Health Nutrition, 22(5), 936–941. https://doi.org/10.1017/S1368980018003762
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